Soube por meio das redes sociais que Saramago é ateu, ou ateísta, ou como quiser. Mas a frase que vejo aqui, além da beleza é uma das frases que mais traduz a influencia da herança cristã. Primeiro ao colocar o filho como algo mais do que um produto biológico, segundo por colocar o mesmo como meio para um curso intensivo, terceiro por trazer á tona o heroísmo trágico da filosofia existencialista, cuja matriz principal é a cosmovisão cristã.
Como pai percebo nas palavras atribuídas ao Saramago a mais pura realidade, afinal um filho desperta em um pai a vontade de ser cada vez melhor para que ele (o filho) seja melhor do que foi o pai. A imagem daquele ser que depende se não exclusivamente, ao menos majoritariamente, de seus progenitores para crescer e se desenvolver plenamente, desperta em um pai uma coragem fora do comum.
Ao ler estas palavras, me lembro que Jesus expressou as mesmas ideias de forma diferente. Em seu famoso sermão do Monte ele disse que mesmo sendo maus, sabemos dar boas coisas aos nossos filhos e que Deus age da mesma forma em proporção infinitamente maior. O salmista disse que tal como um Pai que se compadece de seu filho a quem ama, o Senhor se compadece do gênero humano, pois ele lembra a nossa estrutura e sabe que somos pó. É nos saltério que lemos que os filhos são herança do Senhor, e galardão. Em fim, a terra toda pertence a Deus, tudo é de Cristo é Cristo de Deus. Visto da visão cristã as palavras de Saramago ganham extremo apreço.
Se pudesse me encontrar com Saramago e travar um dialogo com ele o parabenizaria por tal percepção, e perguntaria: quem teve tal ideia? O acaso? Quem planejou tal curso intensivo, e para quê? Se um filho é empréstimo, que fez tal concessão? Por ora fico com este insight divino que Saramago teve e absorvo a sabedoria divina em suas palavras.
Marcelo Medeiros
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