Há algum tempo atrás escrevi em meu blog
pessoal, um texto a respeito de uma frase similar a esta. Este, aliás foi o
slogan de um candidato evangélico, cuja carreira e trajetória até admiro, mas
da qual discordo. Otoni de Paula Jr. Mas ele não é assunto deste artigo, e sim
o prefeito.
A revista, nada imparcial, Veja
publicou uma matéria a respeito do índice de rejeição do atual prefeito da
Cidade do Rio. Não é para menos. Sob a alegação da necessidade de rever as
atitudes da gestão anterior, e com péssima comunicação com a população,
provocou ira dos servidores ao fazer trocas equivocadas em alguns cargos de
chefia, sem com isto diminuir significativamente pastas de algumas secretarias.
Outro tiro no pé, foi o problema com uma creche institucional, mantida com recursos
dos próprios servidores.
Não são claros seus critérios
de corte de gastos, repito. O novo alvo é o famoso centro presente, um programa
de integração entre a prefeitura, Estado e FECOMÉRCIO. Isto colocado, há que se
analisar algo da trajetória de Crivella a fim de entender esta rejeição que o
prefeito tem sofrido. Na verdade, ele nunca foi unanimidade.
Marcelo Crivella foi eleito após sucessivas
tentativas ao governo do estado e à prefeitura do Rio de Janeiro. Sempre
rejeitado não por conta de uma suposta inabilidade política, mas por sua
ligação com Edir Macedo, e pela suspeita de um projeto de poder do grupo IURD
(aliás, sempre bem explorada por seus adversários políticos).
No pleito atual ele venceu o outro rejeitado,
Marcelo Freixo, por uma margem ínfima. Entre os dois uma margem significativa
de votos nulos e abstenções, indicando clara rejeição das alternativas
apresentadas (algo que apenas a mídia, à serviço do poder e os políticos teimam
em não entender, mas que o leitor e observador atento percebe e muito bem). Não
se faz necessário um QI acima de setenta para entender isto. Os que não
entendem, não entendem por conta de total falta de esforço, aquilo que até Tico
e Teco entenderiam.
Ainda sobre Marcelo Freixo há
que se lembrar que a despeito de seu valioso trabalho na comissão de direitos
humanos a ALERJ, e de sua atuação na anistia dos bombeiros militares que foram
presos por conta de um justo movimento de oposição ao então governador Sérgio Cabral,
não me agrada em nada a radicalidade de seu partido. Pior, como professor de
História, sua participação nos debates foi pífia. Mas deixemos Marcelo Freixo
de lado e consideremos novamente seu homônimo, o Crivella.
O que quer que tenha motivado
Crivella a concorrer insistentemente o cargo de prefeito da cidade nada
maravilhosa, projeto de poder de um grupo escuso, ou utopia
político/evangélica, fato é que Crivella herdou contas de uma gestão passada
nada clara e transparente e um povo sem memória, que se mostra cada vez mais
insatisfeito e menos paciente e racional. Não é nada fácil para evangélicos e crentes
históricos e católicos (para não mencionar umbandistas e candomblecistas),
separar a figura do político da figura do Bispo. Daí que as críticas venham
carregadas de um ressentimento cujo fundo é religioso.
Isto não quer dizer que eu esteja disposto a
fechar meus olhos para as denúncias que Ricardo Mariano, apenas para
exemplificar, tem feito há mais de dez anos para o projeto de poder de alguns
grupos evangélicos. Deixar apenas a IURD neste barco é injusto, aqui todos
temos de cortar a própria carne. Aqui cabe mais um parágrafo a respeito da visão
estreita dos evangélicos.
Em boa parte, o público
evangélico é formado pelos cristãos pentecostais. A maior marca destes é a
ascese de bens materiais. Somente com a segunda onda pentecostal que ocorrerá o
que se chama de ênfase no corpo e em si mesmo, o que relegará o céu a um
segundo plano. O advento do neopentecostalismo, com a ênfase na aquisição de
bens altera o plano, mas não a ponto de influenciar a mentalidade política.
Um fator agravador foi a
síntese entre mentalidade monárquica e messianismo político. Quem já era
nascido na década de noventa sabe o quanto se propalou nos púlpitos das Igrejas
a respeito do advento de um presidente evangélico. Estamos tendo uma amostra
grátis na figura do prefeito.
Quem é leitor de Jonh Stott
sabe bem de suas severas críticas ao anti intelectualismo reinante no ambiente
pentecostal. O resultado deste em termos políticos vê-se na eleição dos Marcos
Felicianos da vida, dos Takayma e de uma série de gente que no púlpito enganava
bem, mas que foi e tem sido uma tragédia nas tribunas legislativas, fora os
interesses escusos. Falo isto considerando que a gestão nada transparente de
Paes deixou uma herança infeliz para Crivella.
Todavia, mesmo vendo a herança de Crivella, a
gestão suspeita de Eduardo Paes, a impaciência dos nossos cidadãos, a falta de
senso histórico, nada disto justifica o atual prefeito, que quisesse de fato
governar em favor do povo, teria traçado uma linha estratégica mais eficiente.
Afinal uma boa gestão à frente da prefeitura seria o caminho para uma reeleição
e quem sabe para sabe para pleitear o governo do Estado do RJ. Mas como ocorre
todas as instâncias, Crivella não possuía e nem possui uma linha estratégica
para driblar a crise. Apenas um modus operandos cuja base é a supressão
temporária de direitos do funcionalismo público, com uma posterior volta dos
mesmos. O que mostra uma profunda falha dos políticos evangélicos em geral: a
confirmação com os esquemas consagrados pela política brasileira.
De nada adianta votar em
candidato evangélico que acredita que a forma de governar do presidente é a
correta, quando uma leitura dos profetas e da carta de Tiago aponta na direção contrária.
Suprimir direitos de funcionários públicos é conformar-se com os esquemas do
presente século. Neste caso, o famoso administramos
mal?, e daí, o povo paga a conta.
Eu particularmente não alimento nenhuma ilusão
com a política e os políticos, mas torço para que dê certo, gostaria de sugerir
ao atual prefeito que crie um canal eficiente de comunicação com a população.
Que neste canal informe à mesma a respeito da situação financeira da
prefeitura, sem acusar o prefeito anterior. Justiça em relação a Eduardo Paes é
uma questão de tempo, e que Crivella entenda que o mesmo se aplica à ele. Mas
esta seria apenas uma entre uma série de medidas, dentre as quais uma
estratégia para sanear as finanças, sem que a população sofra com isto.
O grande problema é que aqui a minha crítica
não se prende exclusivamente ao prefeito mal amado, antes aplica-se às
instâncias federal e estadual. CORTEM NA PRÓPRIA CARNE! Comecem pelos cargos de
confiança que as pessoas ascendem sem que para isto sejam concursados. Estes
são uma moeda de troca sempre usada para garantir apoio para eleição aos cargos
públicos. Daí o crescimento exponencial de ministérios e secretarias de Estado
e as municipais também. Não basta ser transparente com as contas da gestão
anterior, é preciso ser com a própria gestão. Isto é ser simples como a pomba e
prudentes como a serpente. Afinal, vida de crente na política, não é vida de
profeta na corte.
Outro problema: está mais do
que na hora de as igrejas pentecostais, a maioria neste país, abandonarem esta
cultura contraria à intelectualidade e investir em seus jovens que possuem
vocação para a política. O investimento consiste na ênfase na leitura dos
clássicos e da boa parte da tradição política, e na síntese entre esta e a cosmovisão
cristã. Um segundo passo seria a formulação de um projeto de sociedade, algo
comum na perspectiva reformada, que não seja exclusivamente evangélico, mas que
contemple a toda a população.
Não dá mais para associar
evangelicalismo com fundamentalismo (na pior acepção do termo). Ser evangélico político
é mais do que ser representante de uma Igreja, é propor o debate dos problemas
sociais, em outros termos. É esta esperança que ainda me faz escrever sobre
política neste espaço. Mas a esperança aqui não é otimismo a todo custo.
Marcelo Medeiros, escritor,
teólogo especialista em Ciências da Religião.
Queria postar no meu face porém não estou conseguindo.
ResponderExcluirNo mais está difícil com está gestão!,
Porque a zaga deste parece estar nos funcionarios@, porque não retirar de outra classe?, mas preciosa os trabalhadores.
Pessoas que muitas das vezes se encontram en hrande dificuldafes para sobreviver.