Escrevi recentemente a respeito do crescente interesse dos crentes brasileiros, inclusive pentecostais, pela fé reformada. Fato este que vejo com profunda alegria [aqui]. Não se trata de querer calvinizar a assembleia de Deus, e muito menos de discutir questões loucas, mas de alegrar-se por ver ventos de renovação teológica em nosso país.
Do pouco que estudei em história da Igreja, pode observar a controvérsia de Agostinho com Pelágio, seguida das tentativas de síntese das assertivas agostinianas com as pelagianas, que voltaram ao cenário cristão no contexto da reforma (um retorno à teologia agostiniana), e no movimento da contra reforma (que levou católicos a aderirem o semi pelagianismo, possivelmente em razão da influência da companhia de Jesus).
O surgimento do arminianismo, e mais especificamente o processo de radicalização das ideias de Iakobus Arminius (algo que foi obra dos seguidores do mesmo), o retorno do pelagianismo com toda força nas pregações e Teologia de Charles Finney, e a ascensão do liberalismo teológico como alternativa a série contínua de controvérsias, contribuíram para o sucessivo descrédito na teologia.
O liberalismo Teológico, é um filho da teologia com os ideias iluministas. É o resultado de uma tentativa de aplicar a metodologia científica à produção teológica, de forma a produzir um conhecimento tão indubitável quanto o das ciências naturais. A descrença no elementos sobrenatural da Bíblia é tão somente uma consequência da adoção de pressupostos naturalistas e deístas na produção teológica liberal.
O leitor me perdoe o exagero, mas o Brasil vivia um estranho processo. Eu diria que influenciado pelo que há de pior na teologia evangelicalista americana, o pelagianismo foi excessivamente absorvido, e de outro lado, o amplo crescimento do liberalismo teológico nos seminários. Este último fez com que muitos crentes marginalizassem a Teologia, visto que a mesma foi transformada em ferramente crítica, ao invés de em um mapa que auxilia na leitura da Bíblia. E a Estranha mistura de pelagianismo com semi pelagianismo?
O discurso do mérito predominou, principalmente nas Igrejas pentecostais e neopentecostais. Pasme, mas mesmo a Bíblia dizendo: pela graça sois salvos [...], não foram poucas as vezes que ouvi, temos de trabalhar pela nossa salvação, quando Paulo diz: ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida, todavia aquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, a sua fé lhe é creditada como justiça (Rm 4. 4, 5 NVI).
Sucessivas vezes ouvi de pregadores a seguinte frase: você ainda não está salvo, algo que enquanto teologia não sei expressar o que é, dado o caráter aberrante e antibíblico. Jesus disse que todo aquele ouve as suas palavras e crê naquele que o enviou já está salvo, passou da morte para a vida (Jo 5. 24 [paráfrase]). Já era hora de mudar mesmo.
Embora Reformado por convicção, não creio que um processo de luteranização, ou de calvinização resolverá o problema. O interesse pela teologia reformada é fruto de leitura e reflexão, que ao meu ver se ampliará cada vez mais em razão da ampla literatura, da disponibilização das obras em mídias digitais, e da crescente discussão, e o caminho é o mover do espírito, que trará bom senso para que as pessoas vejam a consistência bíblica da Teologia da Reforma. As discussões, os fóruns, podem ser de máximo proveito desde que a coerência fale, e nunca a soberba.
Em Cristo, Marcelo Medeiros
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